Entrevista com o Autor


Dr. Antônio Lopes de Sá
em 18/05/2007

Ética e Valores Humanos

Antônio Lopes de Sá é Doutor em Ciências Contábeis pela Universidade do Brasil; Doutor H.C. em Letras pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres; Presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis de 1998 a 2004; Escritor, com 178 livros editados (no Brasil, Argentina, Portugal e Espanha) e mais de 13.000 artigos publicados (no Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, Chile, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Itália etc.). Autor da obra "Ética e Valores Humanos".

1- Em seu livro o senhor fala muito em Ética Aplicada de uma forma abrangente. Em síntese, o que viria a ser realmente a Ética Aplicada?
R: Seria materializar os preceitos da virtude. Em meu livro destaco o que é o bem, como aplicá-lo e em que circunstancias os homens representativos da humanidade isso fizeram.

2- No seu entendimento, o homem nasceu para ser bom, mau, ou aprender a conviver com a dualidade de ambas as forças, como defendiam René Descartes e Christian von Wolff?
R: O bem ou o mal é fruto de uma consciência. Essa é a consciência ética, ou seja, bem é não nos prejudicar e nem prejudicar a terceiros.

3- Para o ser humano alcançar o estado de benevolência genuína, este pode lançar mão do racionalismo, ou deve negá-lo, correndo o risco de se tornar uma espécie de pietista, para uma convivência harmônica entre seus pares em sociedade?
R: Piedade não ajuda a ninguém definitivamente. O paternalismo contumaz é um vício e não uma virtude. Não se deve humilhar a ninguém dando sempre esmolas, mas, sim ensejando oportunidades de independência permanente para sobreviver.

4- No sentido da evolução coletiva, o senhor acredita que a ação isolada de alguns poucos seres, pode influenciar no pleno desenvolvimento da maioria, ou o desenvolvimento pessoal somente depende do esforço realizado pelo indivíduo?
R: Cada um deve buscar o sucesso, mas, todos dependem de oportunidades e educação para isso.

5- A predileção por uma religião pode ser fator determinante para uma convivência do ser humano com seus semelhantes e consigo mesmo, ou a religião poderia ser deixada em segundo plano?
R: A religião em geral se fundamenta em preceitos éticos, mas, algumas delas se apoiaram ao longo dos anos em crendices e fanatismos. Não creio que sejam as religiões os fatores exclusivos de sucesso ou insucesso dos seres, mas, admito que muitos indivíduos precisam dela para conter seus instintos e buscar direcionamentos. A opção entre o racional e a crença tem sido uma luta filosófica de há muito. Voltaire acreditou que ser religioso implicasse abdicar a razão e os iluministas assim admitiram. A ciência não admite dogmas. Algumas religiões são por naturezas dogmáticas. Baseia-se a crença em oferecer aquela proteção que se busca desde que se sai do ventre materno aonde nada nos faltava. Não recuso nem combato quem tem religião, apenas adoto em minha obra a filosofia da benevolência.

6- Muito se fala em Ética e em Moral. Para o senhor, ambas andam juntas, separadas, interdependem uma da outra e qual a importância de cada uma para a estabilidade social?
R: Moral é costume, com senso. Ética é ciência. A moral é subjetiva e a ética objetiva. Não são a mesma coisa embora se assemelhem. Moral é uma prática como o é a ética, mas, diferem quanto a essência do verdadeiro. A Ética sobrepõe-se a Moral, em meu entendimento.

7- Para terminar, o que diria a todo aquele profissional (advogado ou não) que diariamente no exercício de sua profissão, depara-se com casos de debilidade ética e moral e em virtude de viver imerso numa sociedade conturbada como a que temos hoje, se acha confuso quanto a que caminho escolher para solucionar seus problemas e dúvidas?
R: Quando alguém procura um profissional nele deposita a confiança. Dever ético é ser leal à confiança. Pouco importa o que é circunstancial. Um advogado ao defender um criminoso não defende o crime, mas, ao seu cliente. O mesmo ocorre a um médico, a um contador, a quem quer que tenha a responsabilidade de ser leal a uma confiança depositada. Ético para o profissional é corresponder a confiança outorgada. Minha obra abrange, pois, a qualquer ramo de atividade porque se fundamenta em princípios gerais, universais, como toda ciência deles se vale.