Entrevista com o Autor


Ernesto Berg
em 27/06/2014

Quando alguém surge com uma ideia, a coloca em prática e essa apresenta resultados positivos, muitos dizem "Por que não pensei nisso antes?". Isso pode ocorrer por vários fatores. Primeiro porque a pessoa nega-se a sair da zona de conforto, a pensar "fora da caixinha", a ter iniciativa de quebrar paradigmas que foram construídos ao longo de anos. Outra razão pode ser porque o profissional simplesmente não queira se arriscar a cometer um erro, uma vez que nem sempre as organizações entendem que se equivocar também faz parte do processo de aprendizagem. 
Para Ernesto Berg, consultor e especialista em desenvolvimento organizacional e de Recursos Humanos, que recentemente lançou o livro Manual de Criatividade Aplicada, Editora Juruá, todas as pessoas são criativas enquanto criança, pois ainda não nessa fase o ser humano não está condicionado a preceitos, regras e regulamentos ditados pela eficiência e eficácia do mundo dos negócios. "À medida que crescemos, vamos sendo condicionados a não errar e fazer tudo ‘certinho', do contrário poderemos estar sujeitos a alguma penalidade sempre que fizermos algo diferente do que é considerado certo. Com isso vamos repreendendo a experimentação e a capacidade criativa que existia em nós e passamos, sempre mais, a nos condicionar aos padrões sociais e organizacionais vigentes", discorre o consultor. Em entrevista concedida ao RH.com.br, Ernesto Berg fala sobre seu novo título, bem como os fatores que inibem e os que estimulam o potencial criativo dos talentos. Boa leitura!

Confira a entrevista concedida pelo autor ao site "RH.com.br" (http://goo.gl/QjkssC).

1) Recentemente, o senhor lançou o livro Manual de Criatividade Aplicada. Qual proposta deste seu novo trabalho?Ernesto Berg - Há anos queria escrever esse livro, mas fui adiando por conta dos compromissos profissionais que vão surgindo ininterruptamente. Assim, basicamente, ao escrever essa obra, meu objetivo foi colocar no papel os numerosos e variados instrumentos criativos que utilizei ao longo de minha carreira profissional - primeiro como executivo, depois como consultor organizacional, na busca de solução de problemas e, também, na descoberta de novas oportunidades. Eu utilizei esses, e vários outros métodos, e instrumentos criativos exaustivamente ao longo de mais de 40 anos de profissão junto a empresas e grupos de trabalho, sempre com resultados muito positivos. Julguei, então, que estava na hora de compilar em formato de livro aquilo que eu vinha adotando em minha vida profissional e, também, o que venho ensinando nos cursos de criatividade que ministro.

2) O que seu livro traz de inovador para o mercado, até então não apresentado por outras obras?
Ernesto Berg - Existem excelentes livros sobre criatividade no mercado, vários deles já li e me foram muito úteis. Mas a grande maioria é sobre criatividade ou, então, sobre inovação, mas não ambos. Explico: criatividade é ter uma ideia - às vezes original, outras vezes readaptada, mas não significa colocá-la em prática. Quando temos uma ideia e a colocamos em prática usufruindo disso algum tipo de lucro - econômico, social, organizacional - então, estaremos sendo inovativos. Isto é, criatividade é a ideia, já inovação é pôr a ideia em prática e ter lucro com ela. Poucos livros no mercado, sobre criatividade, abordam ambas: elas ficam no terreno das ideias ou exclusivamente da inovação que é a parte prática. A maioria dos autores não faz o link entre eles. O meu livro corrige em grande parte essa lacuna, mostrando como gerar ideias e como colocá-las em prática no âmbito pessoal e profissional. Faço isso citando um grande número de casos e exemplos.

3) Como o Manual de Criatividade Aplicada está estruturado?
Ernesto Berg - Basicamente o livro está estruturado em cinco partes. A primeira explica o que é criatividade e inovação e os múltiplos usos delas no nosso dia a dia. Abordo também os bloqueadores estruturais, mentais e psicológicos da criatividade e como superá-los. A segunda parte fala das características das pessoas criativas e inovativas. Na terceira parte abordo os instrumentos e as técnicas criativas lógicas e lineares, isto é, o uso da criatividade e da inovação com base nos processos estruturados e racionais, os quais dispõem de métodos excelentes para a solução de problemas. Já etapa seguinte, foco-me nos instrumentos criativos intuitivos, como o brainwriting, incubação e método hipnagógico ensinando como utilizá-los em seu dia a dia profissional. A última parte mostra como podemos estimular a criatividade, contendo um método inédito por mim desenvolvido, que é o Programa Pessoal de Criatividade e Mudança de Atitude para Oito Meses, que pela primeira vez disponibilizo em livro.

4) Todo ser humano é criativo? 
Ernesto Berg - Todos nós somos criativos enquanto criança, pois ainda não somos condicionados aos preceitos, às regras e aos regulamentos ditados pela eficiência e eficácia do mundo dos negócios. À medida que crescemos, vamos sendo condicionados a não errar e fazer tudo "certinho", do contrário poderemos estar sujeitos a alguma penalidade sempre que fizermos algo diferente do que é considerado certo. Com isso vamos repreendendo a experimentação e a capacidade criativa que existia em nós e passamos, sempre mais, a nos condicionar aos padrões sociais e organizacionais vigentes. Logo, em essência, todo ser humano é criativo na sua origem, mas a maioria perde essa capacidade depois de adulto porque aprendeu a pensar dentro da "caixinha", dentro dos paradigmas vigentes. No entanto, a criatividade pode ser resgatada. É apenas uma questão de reviver o potencial criativo que permanece incubado no nosso âmago. E isso pode ser feito através do treinamento e desenvolvimento contínuo das capacidades criativas do indivíduo.

5) Ser criativo é apresentar algo nunca antes visto ou também pode ser aprimorar um processo já existente?
Ernesto Berg - Uma das melhores definições de criatividade é a de Mike Vance, da Walt Disney University: "Criatividade é a configuração do novo e a reorganização do velho". Isto, de certa forma, responde à sua pergunta. Podemos criar algo inteiramente novo ou readaptar coisas já existentes e lhes emprestar nova configuração. Eu diria que mais de 90% de todas as criações e inovações já feitas pela humanidade são a reorganização e remodelação do que já existe, parodiando o químico francês Lavoisier: "No mundo nada se cria, nada se perde; tudo se transforma". Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica incandescente, afirmou que você não precisa ficar inventando tudo de novo, basta pegar ideias já existentes e adaptá-las à sua necessidade, e com isso poderá criar algo totalmente singular e inusitado. Pessoas criativas ficam sempre atentas a essas possibilidades encaixando coisas e situações diferentes, originando assim ocorrências novas, porque quebram paradigmas, e elas percebem coisas que a maioria das pessoas vê, mas não enxerga.

6) Por que nem todas as pessoas conseguem externar os potenciais de criatividade?
Ernesto Berg -
Porque, conforme mencionei há pouco, as censuras criativas provocadas pelo ambiente em que crescemos inibem a capacidade de inovação dos indivíduos, o que leva a bloqueios e a repreensões psicológicas. Existem inúmeros bloqueadores da criatividade e no meu livro identifico os oito principais como, por exemplo: excesso de raciocínio lógico, medo de crítica, acomodação, apego às normas e aos padrões - e mostro o que fazer para superá-los. Identificar esses bloqueadores é importante, pois propicia ao leitor a oportunidade de descobrir esses entraves e, ao conhecê-los, permite eliminá-los - ou, pelo menos, minimizá-los - e adotar novos comportamentos, mais apropriados, que ajudam a ressuscitar a criatividade soterrada ao longo dos anos.

7) O que estimula a criatividade em um ambiente organizacional?
Ernesto Berg -
Em primeiro lugar é preciso que os dirigentes da empresa acreditem que a criatividade é importante, tanto para a solução de problemas como para a busca de novas oportunidades, e estimulem o uso das técnicas, dos instrumentos e dos processos criativos no ambiente organizacional. Isto conseguido, muitas coisas podem ser feitas para alavancar a criatividade, como estimular o uso do brainstorming nas reuniões grupais, instituir uma quota de ideias novas por semana a cada funcionário, constituir comitês de criatividade e inovação para a solução de problemas, reservar um cantinho da criatividade que nada mais é do que uma sala para pensar criativamente, onde existam DVDs, livros e jogos para estimular a criatividade, e assim por diante. No meu livro cito dezenas de procedimentos que contribuem para um substancial aumento de criatividade e inovação, tanto pessoais quanto organizacionais.

8) Atualmente, quais os principais agentes que podam o potencial criativo das pessoas?
Ernesto Berg -
Os principais agentes que podam o potencial criativo das pessoas são: os dirigentes, os gestores e as chefias em geral, quando não estão imbuídos da sua importância; a visão errônea de que criatividade é algo para sonhadores e não para pessoas práticas e realizadoras - é bom lembrar que alguns dos empreendedores e empresas mais bem-sucedidas no mundo são extremamente criativos e inovadores; o conceito equivocado de que a criatividade é algo que já nasce com a pessoa e que, se não a tiver, é impossível ser treinada e desenvolvida. O medo da perda de status pode, também, ser grande inibidor da criatividade porque cria insegurança profissional quando o indivíduo se vê na condição de colocar em prática métodos mais criativos e inovadores no trabalho em substituição aos tradicionais.

9) A criatividade é um fator decisivo para quem deseja obter sucesso seja no campo pessoal ou profissional? 
Ernesto Berg -
Criatividade e inovação são fatores decisivos tanto para pessoas quanto empresas, principalmente hoje em dia, quando a sobrevivência e o sucesso das organizações dependem de respostas inovadoras para um mundo em constante e acelerada transformação. Quanto mais você desenvolve a capacidade de produzir ideias novas e aperfeiçoadas, mais você aumenta o seu valor e seu nível de participação na empresa, porque pessoas criativas através de sua curiosidade, originalidade, flexibilidade, fluência mental, quebra de paradigmas e capacidade de percepção abrem portas para novas e inusitadas ideias e tecnologias, não apenas nos negócios, como em todas as demais áreas do conhecimento humano.

10) As organizações estão abrindo as portas para a criatividade como deveriam? 
Ernesto Berg -
Infelizmente, no Brasil, a maioria das empresas ainda está longe de considerar a criatividade como um auxílio substancial para a melhoria de seus processos e negócios. Existem em nosso país, empresas que dão muito valor à criatividade e à inovação, na maioria filiais de multinacionais como o Google e a 3M. As brasileiras Bug Agentes Biológicos, O Boticário e a Azul Linhas Aéreas, só para citar alguns exemplos são, também, organizações extremamente inovadoras. A ideia de que os processos devem dar certo logo na primeira vez é um erro de conceito muito difundido, pois é um princípio emprestado da qualidade total, e é mal interpretado pela maioria das empresas. O princípio "acerte logo da primeira vez" da qualidade total, é muito útil e necessário no que diz respeito à linha de produção, porém inaplicável quando se trata de utilizá-lo na criatividade, porque esta lida com conceitos completamente diferentes que pressupõem andar por terrenos ambíguos e, às vezes, contraditórios para encontrar soluções diferenciadas.

 


O Autor é sócio-diretor da Berg & Cia. Ltda. É palestrante, professor, autor de mais de 12 livros, presta consultoria e ministra cursos nas áreas de Administração do Tempo, Negociação, Administração de Conflitos, Desenvolvimento de Equipe, Criatividade, Tomada de Decisão, Gestão de Mudanças, Desenvolvimento Gerencial e Organizacional. Gerenciou a área de desenvolvimento gerencial do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), em Curitiba e Brasília. Foi consultor sênior da Alexander Proudfoot Company, São Paulo. É administrador e sociólogo, formado pela FAE-Paraná e pós-graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas de Brasília. Prestou consultoria e conduziu cursos e seminários para mais de 450 empresas, dentre elas: Petrobras, Coca-Cola, Embratel, Correios, Citibank, Companhia Vale do Rio Doce, Bosch do Brasil, O Boticário, Siemens, Renault, Unimed, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Tribunal de Contas da União, Construtora Camargo Correa, ASEA Brown Boveri, Petrobras Distribuidora, TNT Logistics, Transpetro, Electrolux e Organização das Cooperativas do Brasil. É convidado regularmente como conferencista para ministrar palestras em congressos e encontros nacionais sobre temas como: Negociação, Criatividade, Liderança, Gestão do Tempo e Administração de Conflitos.